Por Ricardo Casarin
As vendas de carros elétricos devem crescer no mundo em 2020, apesar dos impactos da pandemia de COVID-19, aponta relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). A estimativa é que o número de veículos em uso em todo o planeta deve chegar a 10 milhões nesse ano. A análise aponta que o segmento deve ter um desempenho superior ao do mercado total de carros de passeio, que deve registrar queda de 25% nas vendas.
A expectativa é de que a marca de 2,1 milhões de veículos elétricos vendidos em 2019 seja superada e que o segmento represente 3% do total do setor. As vendas globais de carros elétricos cresceram pelo menos 30% ao ano na última década, exceto em 2019, quando o incremento desacelerou para 6%. A IEA ressalta que as segundas ondas da pandemia e a recuperação econômica mais lenta que o esperado podem levar a resultados diferentes. “A pandemia de COVID-19 irá afetar o mercado global de veículos e maneira que os governos irão responder irá influenciar o ritmo de transição para carros elétricos”, destaca o relatório.
O CEO da BMW Brasil, Aksel Krieger, afirma que houve uma aceleração nas vendas de veículos elétricos da empresa, mesmo em meio ao cenário atípico. “Tivemos um crescimento de 13% nas vendas de carros elétricos e eletrificados no mundo. Temos uma série de projetos nesse segmento e não interrompemos os investimentos durante a crise. É muito importante para o futuro da marca apostar em inovação e seguir na luta pela redução de emissões”, declarou durante webinar promovido pela Fundação Getúlio Vargas.
Em relação ao mercado brasileiro, o executivo aponta crescimento, mas assinala que ainda é um setor incipiente. “Esse ano, mesmo com a crise, vendemos quase o mesmo que em 2019 inteiro. O carro elétrico já é uma realidade, mas a BMW está no mercado premium, onde o consumidor demanda a tecnologia mais nova. O setor ainda está começando no Brasil. Ao longo do tempo, o produto vai reduzir custos e as montadoras de massa devem entrar com mais força no futuro.”
Krieger entende que a solução híbrida é bastante adequada ao país. “Não vamos conseguir tantos postos de carregamento elétrico no curto prazo. O hibrído é uma solução de transição interessante para a realidade do Brasil. Ele permite carregar de forma elétrica para o uso no dia a dia e com o combustível líquido para viagens mais longas.”
O presidente do Grupo Ipiranga, Marcelo Araújo, vê como possível impacto da pandemia, uma tendência de consumidores se preocuparem mais com a saúde e o meio ambiente. “Acreditamos que duas tendências de longo prazo vão se manter no Brasil: crescimento de biocombustíveis e a mobilidade elétrica”, disse, durante o mesmo webinar.
“A pandemia não deve afetar de forma significativa a curva de transição energética para veículos elétricos no mundo. No Brasil, enxergamos essa curva um pouco mais alongada, principalmente pela relevância dos biocombustíveis. Mas é uma tendência inexorável, já começou a acontecer”, assinalou.
O executivo detalhou que a visão da Ipiranga é de que o Brasil vai conviver por muito tempo com diferentes tecnologias na matriz de propulsão automotiva e de fontes de energia. “Teremos diferentes tipos de veículos, modelos híbridos e puros, convivendo talvez por algumas décadas. O papel dos combustíveis líquidos é auxiliar essa transição gradual. Não parece realista acreditar que vai haver uma grande ruptura.”